segunda-feira, 29 de março de 2010

Pragmatismo - William James

Pragmatismo - William James.

Por: Prof. Thiago André
E-mail: contato@thiagoandre.com

O Autor.

William James era um psicólogo e filósofo formado em Medicina. A Psicologia foi fundada apenas em 1979, por Wilhelm Wundt, de modo que, à época de sua formação, ainda não existia formação em Psicologia. Segundo Herrmann Ebbinghaus "A psicologia possui um longo passado, mas uma história curta". A frase foi dita em 1908, mas até hoje é válida.

William James também é um dos pensadores recentes mais influentes da atualidade, sobretudo do modelo estadunidense de pensar e agir. O conteúdo desta influência se encontra principalmente no livro sobre o pragmatismo, que iremos debater agora.

Fundamentação Filosófica.

William James faz alusão a alguns princípios filosóficos de modo a situar melhor o pensamento pragmático. Na primeira conferência ele afirma que a definição pessoal em determinadas linhas filosóficas é uma questão de temperamento. Com isso, define 2 temperamentos básicos: do espírito duro e do espírito tenro.

Segundo James (2006, p. 26) o indivíduo com temperamento de espírito tenro tende a ser racionalista (que segue "princípios"), intelectualista, idealista, otimista, religioso, livre arbitrista, monista e dogmático. Podemos acrescentar que também tende a ser mateologista, teísta e absolutista.

À mesma página, o autor define o indivíduo com temperamento de espírito duro com tendência a ser empírico (que segue "fatos", sensacionalista, materialista, pessimista, irreligioso, fatalista, pluralista e cético. Podemos acrescentar que também tende a ser antimateologista, panteísta e finitivo.

Duas passagens de texto clarificam bem esses temperamentos. Um de Leibnitz, considerado espírito tenro, defendendo que tudo que ocorre faz parte da estrutura divina e corrobora para o bem. Outro de Morrison I. Swift, considerado de espírito duro, criticando a visão puramente racionalista de Leibnitz (JAMES, 2006, p. 35 a 38). Eis a passagem que cita o pensamento de Swift.

"Após caminhar com muito custo através da neve, de uma ponta a outra da cidade, na vã esperança de arranjar emprego, e com sua esposa e seis filhos sem alimentação e com ordens de abandonar sua casa em uma cabeça-de-porco da zona mais miserável da cidade, por causa de atraso no pagamento de aluguel, John Corcoran, funcionário, acabou hoje com a vida bebendo ácido carbólico. Corcoran perdera sua posição três semanas antes por motivos de doença, e durante o período de disponibilidade, suas magras economias desapareceram. Ontem obtivera trabalho com uma turma de limpadores de neve da cidade, mas estava muito fraco em virtude da doença, e foi forçado a largar o trabalho após o esforço de uma hora com a pá. Com o que recomeçou de novo a fatigante tarefa de procurar emprego. Completamente desencorajado, Corcoran retornou ao lar a noite passada para encontrar esposa e filhos sem alimentos e o alvará de despejo pregado à porta. Na manhã seguinte, bebeu o veneno".

"Os registros de muitos mais casos encontram-se diante de mim (prossegue Swift); uma enciclopédia poderia facilmente ser preenchida com casos dessa espécie. Esses poucos eu cito como uma interpretação do universo. 'Estamos certos da presença de Deus nesse mundo', diz um escritor em uma revista inglesa recente. 'A presença mesmo do mal na ordem temporal é a condição da perfeição da ordem eterna', escreve o professor Royce (The World an te Individual, II, 385). 'O absoluto é mais rico para cada discórdia e para toda a diversidade que abarca', diz F. H. Bradley (Appearance and Reality, 204). Quer dizer que esses homens assassinados tornam o universo mais rico, e que isso é filosofia. (...)"

(JAMES, 2006, p. 37).

Aqui fica clara a posição que, por um lado, pode ser considerada pessimista e, por outro, dura. O que Swift defende é que não é possível que o mal da humanidade, hoje, seja parte de um plano divino de bem. Critica que dizer isso é considerar o mal como uma riqueza filosófica.

O Método Pragmático.

"O método pragmático nesses casos é tentar interpretar cada noção traçando as suas consequência práticas respectivas. Que diferença praticamente haveria para alguém se essa noção, de preferência àquela outra, fosse verdadeira?" (JAMES, 2006, p. 44). William James, certa fez, lançou o seguinte trocadilho: "What is mind? No matter. What is matter? Never mind". Ou seja: só importa o que realmente é importante (JAMES, 2006, p. 163).

"As teorias, assim, tornam-se instrumentos, e não respostas aos enigmas, sobre as quais podemos descansar. (...) O pragmatismo (...) põe-nos a trabalhar. Não sendo nada essencialmente novo, se harmoniza com muitas tendências filosóficas antigas" (JAMES, 2006, p. 48).

Conceitos relacionados e consequentes:

  1. Verdade Instrumental A verdade é aquilo que tem utilidade prática para nós, dentro de certos limites lógicos, por exemplo, segundo a realidade da formação de nossos conjuntos da verdade (JAMES, 2006, p. 50).
  2. Teoria da verdade Uma nova verdade deve estar de acordo com as verdades que já temos interiorizadas em nossa mente, se não, não será aceita. Após conflito com as verdades antigas, a nova verdade será aceita com o mínimo de prejuízo possível para aquelas. Quanto mais antiga a verdade que temos interiorizada, mais difícil é mudá-la (JAMES, 2006, p. 50 a 52).
  3. Doutrina do alívio São as verdades que ainda podem nos causar consolo, a exemplo das idéias religiosas para o cientista (JAMES, 2006, p. 78).
  4. Férias morais É o processo de, por exemplo, tomar férias da resolução de algum mal no âmbito do finito, em nossa existência humana, e "deixar que o mundo vá à sua própria sorte, na certeza de que seus problemas acham-se em melhores mãos do que em nossas, e que não constituem assunto de nossa alçada" (JAMES, 2006, p. 57).
O Senso Comum.

A base para a concepção de William James para o senso comum se fundamenta na teoria da verdade, no caso, aplicado ao conhecimento não de uma pessoa apenas, mas ao conhecimento da sociedade como um todo.

"O próprio fato de debatermos essa questão mostra que nosso conhecimento é incompleto presentemente e sujeito a acréscimos" (JAMES, 2006, p. 98).

"Segue-se que modos de pensar muito antigos podem ter sobrevivido através de todas as ulteriores mudanças nas opiniões dos homens" (JAMES, 2006, p. 99). E esse conhecimento sobrevivente é, para William James, o senso comum.

A noção histórica de senso comum também é visível no seguinte trecho: "Minha tese agora é essa, que as nossas maneiras fundamentais de pensar a respeito das coisas são descobertas de ancestrais incrivelmente remotos, que foram capazes de preservar-se ao longo da experiência dos tempos subsequentes. Formam um grande estádio de equilíbrio no desenvolvimento do espírito humano, a fase do senso comum" (JAMES, 2006, p. 99 e 100).

Estádios do Pensamento a Respeito do Mundo.

São três os tipos do pensamento humano, para William James (p. 108): o Senso comum (sendo a escolástica sua irmã caçula), a crítica filosófica e a ciência. "... mas se qualquer deles é absolutamente mais verdadeiro, só Deus sabe" (p. 109).

A Verdade.

Além do conceito de verdade instrumental, William James diz que "as idéias verdadeiras são aquelas que podemos assimilar, validar, corroborar e verificar. As idéias falsas são aquelas com as quais não podemos agir assim" (JAMES, 2006, p. 113).

A verdade é verificada e validade, para ele, quando "... nos levam (...) através dos atos e outras idéias que instigam, em direção a outras partes da experiência que as idéias originais permanecem em acordo" (JAMES, 2006, p. 113).

Também critica a visão intelectualista da verdade: "A grande suposição dos intelectualistas, entretanto, é que a verdade significa essencialmente uma relação estática inerte. Quando se chega à idéia verdadeira de alguma coisa, chega-se ao fim da questão" (JAMES, 2006, p. 112).

A solução pragmática para resolver a questão deve ser: "O 'absolutamente' verdadeiro, significando o que nenhuma experiência posterior jamais alterará, é aquele ponto difuso ideal para o qual imaginamos que todas as nossas verdades temporárias algum dia convergirão. (...) Nesse meio tempo, temos de viver hoje com a verdade que podemos ter hoje, e estarmos prontos amanhã para tachá-la de falsidade" (JAMES, 2006, p. 123).

A Verdade.

O Humanismo de William James é uma doutrina filosófica resumida em: "o mundo (...) é o que fazemos dele" (JAMES, 2006, p. 132), ou seja, a realidade é uma função do que interpretamos dela. Junto com o pensamento de Epicteto (o que perturbam os homens não são as coisas, mas sim a opinião que delas têm) e Sartre (não importa o que fazem com a gente, mas sim o que fazemos com o que fazem com a gente), caracterizam o pensamento da psicoterapia cognitiva.

Esse Humanismo abre precedentes para que os pragmatistas compreendam sua posição integrativa, utilizando-se de diversos modos de pensar, desde que úteis: "O pragmatista é a última pessoa a negar a realidade dessas abstrações. (...) Tomar, porém, a edição absoluta do mundo concretamente significa uma hipótese diferente" (JAMES, 2006, p. 142).

O que significa em sua vida o pragmatismo? Afinal de contas, que resultado prático há para você nessa noção, de preferência a outras? "Se não pode ser traçada nenhuma diferença prática qualquer, então as alternativas significam praticamente a mesma coisa, e toda a disputa é vã" (JAMES, 2006, p. 44).

Referências Bibliográficas.

  1. James, William. Pragmatismo. São Paulo: Martin Claret, 2007.
Fonte(http://www.cursodeleitura.com/redacoes-e-resumos/filosofia/pragmatismo.php)

quinta-feira, 18 de março de 2010

Um Novo Paradigma para Pesquisar a Consciência

Um Novo Paradigma para Pesquisar a Consciência

A Conscienciologia objetiva o estudo da consciência de modo integral, com todos os corpos, existências e dimensões, tendo como base os princípios da ética cósmica.

Algumas ferramentas utilizadas para a pesquisa da consciência constituem na observação e análise dos atributos da personalidade e também na experimentação e autopesquisa das próprias reações perante às diferentes formas de energia, sejam provenientes da natureza, dos ambientes ou das consciências.

Estudar a consciência não é uma tarefa simples. Cada microuniverso consciencial é extremamente complexo para ser pesquisado de maneira convencional.

Os instrumentos, aparelhos ou parâmetros físicos são ainda insuficientes para analisar a consciência, pois esta se encontra além da própria matéria e da energia. O microuniverso consciencial não pode ser colocado dentro de um tubo de ensaio, não pode ser observado por um microscópio ou ser analisado por um sofisticado computador.

Segundo as premissas da Conscienciologia é necessário estabelecer novos parâmetros de medida, descobrir novos instrumentos de investigação para pesquisar a consciência. Este novo modelo denomina-se Paradigma Consciencial.

O Paradigma Consciencial é fundamental para responder a inúmeros questionamentos e explicar vários fenômenos que vêm sendo ignorados ou excluídos da ciência convencional há cerca de 2 séculos; e levantar também outros tantos questionamentos importantes para o desenvolvimento da ciência.

Através deste novo paradigma a consciência irá estudar a si mesma. Isto quer dizer que a consciência (você e todos nós) torna-se, simultaneamente, o objeto de estudo, o sujeito e o próprio instrumento de pesquisa. No método da autopesquisa (pesquisa de si mesmo) o pesquisador é o próprio objeto das suas investigações.

O Paradigma Consciencial propõe a ampliação do pensamento científico, oferecendo uma visão integral do Universo e da consciência. A partir desse novo ponto de vista é possível sair da "dermatologia da consciência", ou seja: o estudo superficial, material, que representa a "pele" da consciência, para adentrar profundamente na dinâmica do microuniverso consciencial.

O Paradigma Consciencial aborda a consciência a partir dessas premissas básicas:

  1. Holossomática: Admite a existência do holossoma (holo + soma), ou seja, o conjunto de corpos ou veículos de manifestação da consciência formados pelo soma ou corpo físico; energossoma,o corpo das energias, também conhecido como holochacra; psicossoma ou corpo das emoções e mentalsoma, o corpo do discernimento.

  2. Bioenergética: Assume a existência e a aplicação lúcida das bioenergias através do energossoma (energo + soma: corpo energético formado pelo conjunto de chacras), levando em consideração as influências das energias imanentes e conscienciais muito além das percepções cerebrais registradas a partir dos sentidos físicos.

  3. Multidimensionalidade: A consciência se manifesta em múltiplas dimensões e cada veículo se manifesta em uma dimensão. Portanto, através do domínio voluntário das projeções conscientes - experiências fora do corpo - projetor tem a oportunidade de comprovar essa realidade, pois está em contato direto com inúmeras dimensões e realidades não-físicas.

  4. Serialidade: Sustenta o princípio de que a consciência é multiexistencial e multimilenar, ou seja, a personalidade submete-se à serialidade de existências ou múltiplas vidas humanas em série, intercalando com períodos chamados intermissivos, ou seja, entre as vidas humanas.

  5. Cosmoética: O paradigma consciencial tem por filosofia moral a cosmoética ou moral cósmica - um princípio mais amplo que a moral humana - que leva em consideração as múltiplas vidas, ou seja, as nossas múltiplas relações interpessoais nem sempre positivas; os diferentes veículos de manifestação, levando em consideração a qualidade dos nossos pensamentos, sentimentos e energia e suas repercussões.

  6. Universalismo: É o conjunto de idéias derivadas da universalidade das leis básicas da Natureza e do Universo, que através de todos os campos de pesquisa envolve o microuniverso das consciências, expandindo a partir dela para o Universo, onde estão todos imersos. Diante dessa premissa, perde o sentido do apego aos bairrismos, nacionalismos exacerbados, preconceitos de todos os tipos, fronteiras entre países.

  7. Auto-experimentação: Embasa a pesquisa da consciência a partir da auto-experimentação. A Projeciologia é considerada a parte prática, experimental, da Conscienciologia, pois o fenômeno da projeção consciente é a ferramenta mais importante para o estudo da consciência. A projeção conduz a consciência ao autoconhecimento integral. Daí surge a necessidade do conscienciólogo desenvolver sua capacidade de projetar-se para fora do corpo humano com lucidez. O conhecimento teórico, muitas vezes apoiado em provas convencionais, crenças ou especulações não é suficiente para realizar a ciência da consciência. Ao invés disso, o conscienciólogo irá buscar a experimentação pessoal da projeção consciente - um fenômeno natural que é autopersuasivo ou se autocomprova.
Todas as descobertas, hipóteses e teorias da Conscienciologia formam um conjunto de Verdades Relativas de Ponta, ou seja, realidades mais importantes, novas e prioritárias para serem aprofundadas, discutidas e também refutadas.

fonte (http://www.iipc.org/ciencias/paradigma.php)

segunda-feira, 1 de março de 2010

Ideologia

Substantivo
i.de.o.lo.gi.a feminino abstrato (plural: ideologias)
1. (concepção neutra) ciência que estuda a formação e a origem das idéias;
2. (concepção neutra) conjunto de idéias, crenças e doutrinas, próprias de uma sociedade, de uma época ou de uma classe;
3. (concepção neutra) maneira de pensar inerente a um indivíduo ou a um grupo de indivíduos;
"Minha ideologia de vida se resume em não fazer aos outros o que eu não gostaria que fizessem comigo."
4. sistema organizado e fechado de idéias que serve de base a uma luta política;
5. (concepção crítica (marxismo)) crença falsa ou falsa consciência das relações de domínio entre as classes resultante da distorção ou inversão proposital da realidade;
6. (concepção crítica) maneiras como o sentido serve para estabelecer e sustentar relações de dominação.

Etimologia
Termo criado pelo filósofo francês Destutt de Tracy no final do século XVIII.
Formação e evolução da palavra: idéa + lógos (grego) » idéologie (francês) » ideology, ideología e demais traduções.

Definição
Ideologia é um termo que possui diferentes significados e duas concepções: a neutra e a crítica. No senso comum o termo ideologia é sinônimo ao termo ideário (em português), contendo o sentido neutro de conjunto de ideias, de pensamentos, de doutrinas ou de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações sociais e, principalmente, políticas. Para autores que utilizam o termo sob uma concepção crítica, ideologia pode ser considerado um instrumento de dominação que age por meio de convencimento (persuasão ou dissuasão, mas não por meio da força física) de forma prescritiva, alienando a consciência humana.

Para alguns, como Karl Marx, a ideologia age mascarando a realidade. Os pensadores adeptos da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt consideram a ideologia como uma ideia, discurso ou ação que mascara um objeto, mostrando apenas sua aparência e escondendo suas demais qualidades. Já o sociólogo contemporâneo John B. Thompson também oferece uma formulação crítica ao termo ideologia, derivada daquela oferecida por Marx, mas que lhe retira o caráter de ilusão (da realidade) ou de falsa consciência, e concentra-se no aspecto das relações de dominação.

Desenvolvimento do termo
A origem do termo ocorreu com Destutt de Tracy, que criou a palavra e lhe deu o primeiro de seus significados: ciência das idéias. Posteriormente, esta palavra ganharia um sentido pejorativo quando Napoleão chamou De Tracy e seus seguidores de "ideólogos" no sentido de "deformadores da realidade". No entanto, os pensadores da antiguidade clássica e da Idade Média já entendiam ideologia como o conjunto de idéias e opiniões de uma sociedade.

Karl Marx desenvolveu uma teoria a respeito da ideologia na qual concebe a mesma como uma consciência falsa, proveniente da divisão entre o trabalho manual e o intelectual. Nessa divisão, surgiriam os ideólogos ou intelectuais que passariam a operar em favor da dominação ocorrida entre as classes sociais, por meio de idéias capazes de deformar a compreensão sobre o modo como se processam as relações de produção. Neste sentido, a ideologia (enquanto falsa consciência) geraria a inversão ou a camuflagem da realidade, para os ideais ou interesses da classe dominante. (Fonte: Marx, Karl e Engels, Friedrich. A Ideologia Alemã (Feuerbach). São Paulo: Hucitec, 2002.)

Entretanto, não é apenas na A Ideologia Alemã que Marx trata do tema ideologia e, devido às inconsistências entre seus escritos sobre o tema, não seria correto afirmar-se que Marx possui uma única e precisa definição sobre o significado do termo ideologia. O sociólogo John B. Thompson faz uma análise minuciosa sobre três desenvolvimentos encontrados ao longo da obra de Marx sobre o termo ideologia, com convergências e divergências entre si, batizados por Thompson como (1) polêmica, (2) epifenomênica e (3) latente.

Depois de Marx, vários outros pensadores abordaram a temática da ideologia. Muitos mantiveram a concepção original de Marx (Karl Korsch, Georg Lukács), outros passaram a abordar ideologia como sendo sinônimo de "visão de mundo" (concepção neutra), inclusive alguns pensadores marxistas, tal como Lênin. Alguns explicam isto graças ao fato do livro A Ideologia Alemã, de Marx, onde ele expõe sua teoria da ideologia, só tenha sido publicado em 1926, dois anos depois da morte de Lênin. Vários pensadores desenvolveram análises sobre o conceito de ideologia, tal como Karl Mannheim, Louis Althusser, Paul Ricoeur e Nildo Viana.

Concepção crítica
O uso crítico do termo ideologia pressupõe uma diferenciação implícita entre o que vem a ser um "conjunto qualquer de idéias sobre um determinado assunto" (concepção neutra sinônima de ideário), e o que vem a ser o "uso de ferramentas simbólicas voltadas à criação e/ou à manutenção de relações de dominação" (concepção crítica). A partir deste ponto-de-partida comum a todos os significados do termo ideologia que aderem à concepção crítica, o que se tem são variações sobre a forma e o objetivo da ideologia. A principal divergência conceitual da concepção crítica de ideologia está na necessidade ou não de que um fenômeno, para que seja ideológico, necessariamente tenha de ser ilusório, mascarador da realidade e produtor de falsa consciência. A principal convergência conceitual, por outro lado, está no pré-requisito de que para um fenômeno ser ideológico, ele necessariamente deverá colaborar na criação e/ou na manutenção de relações de dominação. Ainda, no que se refere às relações de dominação, há diferentes olhares sobre quais destas relações são alvo de fenômenos ideológicos: se apenas as relações entre classes sociais, ou também relações sociais de outras naturezas. Alguns questionamentos neste sentido possuiriam respostas diferentes a depender do autor crítico:
  • Para que algo possa ser concebido como ideológico, deve necessariamente haver ilusão, mascaramento da realidade e falsa consciência? Marx responderia que sim. Thompson responderia que estas são características possíveis, mas não necessárias, para a existência de ideologia;
  • A única dominação à qual se refere a ideologia é aquela que ocorre entre classes sociais? Marx novamente diria que sim. Thompson complementaria com uma lista de outras formas de dominação também existentes na sociedade: entre brancos e negros, entre homens e mulheres, entre adultos e crianças, entre pais/mães e filhos(as), entre chefes e subordinados, entre nativos e estrangeiros.
  • Para aqueles que adotam o termo ideologia segundo a concepção crítica, não faz sentido dizer: que um indivíduo ou grupo possui uma ideologia; que existem ideologias diferentes; que cada um tem a sua própria ideologia; que cada partido tem uma ideologia; que existe uma ideologia dos dominados. Ideologia, pela concepção crítica, não é algo disseminável como é uma idéia ou um conjunto de idéias; ideologia, neste sentido crítico, é algo voltado à criação/manutenção de relações de dominação por meio de quaisquer instrumentos simbólicos: seja uma frase, um texto, um artigo, uma notícia, uma reportagem, uma novela, um filme, uma peça publicitária ou um discurso.
  • John B. Thompson em seu livro Ideologia e cultura moderna (Petrópolis: Vozes, 2007) procurou fazer uma análise crítica sobre as formulações para o termo ideologia propostas por diferentes autores, que ele classificou segundo duas concepções: neutras e críticas. Neste sentido, Thompson considerou as formulações propostas por Destutt de Tracy, Lênin, Georg Lukács e a "formulação geral da concepção total de Mannheim" como concepções neutras de ideologia; já as formulações de Napoleão, Marx (concepções polêmica, epifenomênica e latente) e a "concepção restrita de Mannheim" viriam a ser concepções críticas de ideologia. Ele próprio (Thompson), finalmente, ofereceu a seguinte formulação (crítica), apoiada na "concepção latente de Marx": "ideologia são as maneiras como o sentido serve para estabelecer e sustentar relações de dominação". (p. 75-76) Esta formulação proposta por Thompson é carregada de significados:
  • sentido: diz respeito a fenômenos simbólicos, que mobilizam a cognição, como uma imagem, um texto, uma música, um filme, uma narrativa; ao contrário de fenômenos materiais, que mobilizam recursos físicos, como a violência, a agressão, a guerra;
  • serve para: querendo significar que fenômenos ideológicos são fenômenos simbólicos significativos desde que (somente enquanto) eles sirvam para estabelecer e sustentar relações de dominação;
  • estabelecer: querendo significar que o sentido pode criar ativamente e instituir relações de dominação;
  • sustentar: querendo significar que o sentido pode servir para manter e reproduzir relações de dominação por meio de um contínuo processo de produção e recepção de formas simbólicas;
  • dominação: fenômeno que ocorre quando relações estabelecidas de poder são sistematicamente assimétricas, isto é, quando grupos particulares de agentes possuem poder de uma maneira permanente, e em grau significativo, permanecendo inacessível a outros agentes.
Discurso
O discurso tem uma dimensão ideológica que relaciona as marcas deixadas no texto com as suas condições de produção, e que se insere na formação ideológica. E essa dimensão ideológica do discurso pode tanto transformar quanto reproduzir as relações de dominação. Para Marx, essa dominação se dá pelas relações de produção que se estabelecem, e as classes que estas relações criam numa sociedade. Por isso, a ideologia cria uma "falsa consciência" sobre a realidade que tem como objetivo suprir, morder, reforçar e perpetuar essa dominação. Já para Gramsci, a ideologia não é enganosa ou negativa em si, mas constitui qualquer ideário de um grupo de indivíduos; em outras palavras, poder-se-ia dizer que Gramsci rejeita a concepção crítica e adere à concepção neutra de ideologia. Para Althusser, que recupera a ótica marxista, a ideologia é materializada nas práticas das instituições, e o discurso, como prática social, seria então “ideologia materializada”.

Bibliografia
* Chauí, M. O Que é Ideologia. São Paulo: Brasiliense.
* Eagleton, Terry. Ideologia. São Paulo: Ed. da Unesp, 1997.
* Karl Marx e Engels, Friedrich. A Ideologia Alemã (Feuerbach). São Paulo: Hucitec, 2002.
* Mannheim, K. Ideologia e Utopia. Rio de Janeiro: Guanabara.
* Viana, Nildo. Introdução à Sociologia. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
* Thompson, John B. Ideologia e cultura moderna. Petrópolis: Vozes, 1995.

Fonte (http://pt.wiktionary.org/wiki/ideologia; http://pt.wikipedia.org/wiki/Ideologia)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Consciência: principal tema de pesquisa científica

O tema prioritário de pesquisa científica é a consciência ou seja nós mesmos.

Atualmente e por muito tempo a conciência será o objeto de estudo mais desconhecido que existe, muito além do cérebro humano e suas peculiariedades.

Eleger a consciência como tema prioritário é uma questão de bom senso, priorização e discernimento.

O próprio Paradigma Consciencial tem como base a consciência, ou seja, o enfoque é consciencial.

A pesquisa científica norteia o processo para alcançar o autoconhecimento.

O foco da Pesquisa Conscienciológica não é aprimorar o pensamento científico, mas, encontrar soluções evolutivas para os problemas enfrentados pelas consciências, em todas as dimensões.

Sinonimologia: objeto de pesquisa, assunto de pesquisa, área de pesquisa.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Os Tipos de Conhecimento Humano

No processo de apreensão da realidade do objeto, o sujeito cognoscente pode penetrar em todas as esferas do conhecimento: ao estudar o homem, por exemplo, pode-se tirar uma série de conclusões sobre a sua atuação na sociedade, baseada no senso comum ou na experiência cotidiana; pode-se analisá-lo como um ser biológico, verificando através de investigação experimental, as relações existentes entre determinados orgãos e suas funções; pode-se questioná-lo qunato à sua origem e destino, assim como quanto à sua liberdade; finalmente, pode-se observá-lo como ser criado pela divindade, à sua imagem e semelhança, e meditar sobre o que dele dizem os textos sagrados.

Apesar da separação metodológica entre os tipos de conhecimento popular, filosófico, religioso e científico, estas formas de conhecimento podem coexistir na mesma pessoa: um cientista, voltado, por exemplo, ao estudo da física, pode ser crente praticante de determinada religião, estar filiado a um sistema filosófico e, em muitos aspectos de sua vida cotidiana, agir segundo conhecimentos provenientes do senso comum.

Para melhor entender cada um desses tipos de conhecimento, vamos inicilamente traçar um paralelo entre o conhecimento científico e o conhecimento popular, para depois sinteticamente identificar o que caracteriza cada um deles.

O conhecimento científico e outros tipos de conhecimento

Ao se falar em conhecimento científico, o primeiro passo consiste em diferenciá-lo de outros tipos de conhecimentos existentes. Para tal, analisemos uma situação muito presente no nosso cotidiano.

O parto no âmbito popular e o parto no âmbito da ciência da medicina.

Tipos de conhecimentos que encontram-se mesclados neste exemplo:

    Empírico, popular, vulgar, transmitido de geração em geração por meio da educação informal e baseado na imitação e na experiência pessoal.

    Científico, conhecimento obtido de modo racional, conduzido por meio de procedimentos científicos. Visa explicar "por que" e "como" os fenômenos ocorrem.

Correlação entre Conhecimento Popular e Conhecimento Científico

O conhecimento vulgar ou popular, também chamado de senso comum, não se distingue do conhecimento nem pela veracidade, nem pela natureza do objeto conhecido. O que diferencia é a FORMA, O MODO OU O MÉTODO E OS INSTRUMENTOS DO CONHECER.

Aspectos a considerar:

    A ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à verdade.

    Um objeto ou um fenômeno podem ser matéria de observação tanto para o cientista quanto para o homem comum. O que leva um ao conhecimento científico e outro ao vulgar ou popular é a forma de observação.

    Tanto o "bom senso", quanto a "ciência" almejam ser racionais e objetivos.

Características do Conhecimento Popular

Se o "bom senso", apesar de sua aspiração à racionalidade e objetivo, só consegue atingir essa condição de forma muito limitada, pode-se dizer que o conhecimento vulgar, popular, latu sensu, é o modo comum , corrente e espontâneo de conhecer, que se adquire no trato direto com as coisas e os seres humanos.

"É o saber que preenche a nossa vida diária e que se possui sem o haver procurado ou estudado, sem a aplicação de um método e sem se haver refletido sobre algo". (Babini, 1957:21).

Verificamos que o conhecimento científico diferencia-se do popular muito mais no que se refere ao seu contexto metodológico do que propriamente ao seu conteúdo. Essa diferença ocorre também em relação aos conhecimentos filosóficos e religioso (teológico).

Apresentamos abaixo, em linhas gerais, as características principais dos quatro tipos de conhecimento: popular, filosófico, teológico e cinetífico.

CONHECIMENTO POPULAR

Superficial - conforma-se com a aparência, com aquilo que se pode comprovar simplesmente estando junto das coisas.

Sensitivo - referente a vivências, estados de ânimo e emoções da vida diária.

Subjetivo - é o próprio sujeito que organiza suas experiências e conhecimentos.

Assistemático - a organização da experiência não visa a uma sistematização das idéais, nem da forma de adquirí-las nem na tentativa de validá-las.

Acrítico - verdadeiros ou não, a pretensão de que esses conhecimentos o sejam não se manifesta sempre de uma forma crítica.

CONHECIMENTO FILOSÓFICO

Valorativo - seu ponto de partida consiste em hipóteses, que não poderão ser submetidas à observação. As hipóteses filosóficas baseiam-se na experiência e não na experimentação.

Não verificável - os enunciados das hipóteses filosóficas não podem ser confirmados nem refutados.

Racional - consiste num conjunto de enunciados logicamente correlacionados.

Sistemático - suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade.

Infalível e exato - suas hipóteses e postulados não são submetidos ao decisivo teste da observação, experimentação.

A filosofia encontra-se sempre à procura do que é mais geral, interessando-se pela formulação de uma concepção unificada e unificante do universo. Para tanto, procura responder às grandes indagações do espírito humano, buscando até leis mais universais que englobem e harmonizem as conclusões da ciência.

CONHECIMENTO RELIGIOSO OU TEOLÓGICO

Apoia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas, valorativas, por terem sido reveladas pelo sobrenatural, inspiracional e, por esse motivo, tais verdades são consideradas infalíveis, indiscutíveis e exatas. É um conhecimento sistemático do mundo (origem, significado, finalidade e destino) como obra de um criador divino. Suas evidências não são verificadas. Está sempre implícita uma atidude de fé perante um conhecimento revelado.

O conhecimento religioso ou teológico parte do pricípio de que as verdades tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em revelações da divindade, do sobrenatural.

CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Real, factual - lida com ocorrências, fatos, isto é, toda forma de existência que se manifesta de algum modo.

Contingente - suas proposições ou hipóteses têm a sua veracidade ou falsidade conhecida através da experimentação e não pela razão, como ocorre no conhecimento filosófico.

Sistemático - saber ordenado logicamente, formando um sistema de idéias (teoria) e não conhecimentos dispersos e desconexos.

Verificável - as hipóteses que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência.

Falível - em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final.

Aproximadamente exato - novas proposições e o desenvolvimento de novas técnicas podem reformular o acervo de teoria existente.

MÉTODOS CIENTÍFICOS

Todas as ciências caracterizam-se pela utilização de métodos científicos; em contrapartida, nem todos os ramos de estudo que empregam estes métodos são ciências. Dessas afirmações podemos concluir que a utilização de métodos científicos não é da alçada exclusiva da ciência, mas não há ciência sem o emprego de métodos científicos.

Conceitos de método

"Caminho pelo qual se chega a determinado resultado, ainda que esse caminho não tenha sido fixado de antemão de modo refletido e deliberado". (Hegenberg, 1976:II-115)1.

"Forma de selecionar técnicas e avaliar alternativas para ação científica". (Ackoff In: Hegenberg, 1976:II-116)2.

"Forma ordenada de proceder ao longo de um caminho". (Trujillo, 1974:24)3

"Ordem que se deve impor aos diferentes processos necessários para atingir um fim dado". (Jolivet, 1979:71)4.

"Conjuntos de processos que o espírito humano deve empregar na investigação e demonstração da verdade". (Cervo e Bervian, 1978:17)5.

"Caracteriza-se por ajudar a compreender, no sentido mais amplo, não os resultados da investigação científica, mas o próprio processo de investigação". (Kaplan In: Grawitz, 1975:I-18)6.

Desenvolvimento histórico do método

A preocupação em descobrir e, portanto, explicar a natureza vem desde os primórdios da humanidade, quando as duas principais questões referiam-se às forças da natureza, a cuja mercê viviam os homens, e à morte. O conhecimento mítico voltou-se à explicação desses fenômenos, atribuindo-os a entidades de caráter sobrenatural. A verdade era impregnada de noções supra-humanas e a explicação fundamentava-se em motivações humanas, atribuídas a "forças" e potências sobrenaturais.

À medida que o conhecimento religioso se voltou, também, para a explicação dos fenômenos da natureza e do caráter transcendental da morte, como fundamento de suas concepções, a verdade revestiu-se do caráter dogmático, baseada em revelações da divindade. É a tentativa de explicar os acontecimentos através de causas primeiras, os deuses, sendo o acesso dos homens ao conhecimento derivado da inspiração divina. O caráter sagrado das leis, da verdade, do conhecimento, como explicações sobre o homem e o universo, determina uma aceitação sem crítica dos mesmos, deslocando o foco das atenções para a explicação da natureza da divindade.

O conhecimento filosófico, por sua vez, parte para a investigação racional na tentativa de captar a essência imutável do real, através da compreensão da forma e das leis da natureza.

O senso comum, aliado à explicação religiosa e ao conhecimento filosófico, orientou as preocupações do homem com o universo. Somente no século XVI é que se iniciou uma linha de pensamento que propunha encontrar um conhecimento embasado em maiores garantias, na procura do real. Não se buscam mais as causas absolutas ou a natureza íntima das coisas; ao contrário, procuram-se compreender as relações entre elas, assim como a explicaçào dos acontecimentos, através da observação científica, aliada ao raciocínio.

Da mesma forma que o conhecimento se desenvolveu, o método, a sistematização de atividades, também sofreu transformações. O pioneiro a tratar do assunto, no âmbito do conhecimento científico, foi Galileu Galilei, primeiro teórico do método experimental. discordando dos seguidores do filósofo Aristóteles, considera que o conhecimento da essência íntima das substâncias individuais deve ser substituído, como objetivo das investigações, pelo conhecimento das leis que presidem os fenômenos. As ciência, para Galileu, não têm, como principal foco de preocupações, a qualidade, mas as relações quantitativas. Seu método pode ser descrito como indução experimental, chegando-se a uma lei geral através de da observação de certo número de casos particulares. Os principais passos de seu método podem ser assim expostos: observação dos fenômenos; análise dos elementos constitutivos desses fenômenos, com a finalidade de estabelecer relações quantitativas entre eles; indução de certo número de hipóteses; verificação das hipóteses aventadas por intermédio de experiências; generalização do resultado das experiências para casos similares; confirmação das hipóteses, obtendo-se, a partir delas, leis gerais.

Contemporâneo de Galileu, Francis Bacon também partiu da crítica a Aristóteles, por considerar que o processo de abstração e o silogismo (dedução formal que, partindo de duas proposições, denominadas premissas, delas retira uma terceira, nelas logicamente implicadas, chamada conclusão) não propiciam um conhecimento completo do universo. Parte do pressuposto de que o conhecimento científico é o único caminho seguro para a verdade dos fatos, devendo seguir os seguintes passos: experimentação; formulação de hipóteses; repetição; testagem das hipóteses, formulação de generalizações e leis.

Ao lado de Galileu e Bacon, no mesmo século, surge Descartes. Com sua obra, Discurso do Método, afasta-se dos processos indutivos, originando o método dedutivo. Para ele, chega-se à certeza através da razão, princípio absoluto do conhecimento humano. Postula, então, quatro regras: evidência, que diz para não acolher jamais como verdadeira uma coisa que não se reconheça evidentemente como tal, isto é, evitar a precipitação e o preconceito e não incluir juízos, senão aquilo que se apresenta com tal clareza ao espírito que torne impossível a dúvida; análise, que consiste em dividir cada uma das dificuldades em tantas partes quantas necessárias para melhor resolvê-las, ou seja, o processo que permite a decomposição do todo em suas partes constitutivas, indo sempre do mais para o menos complexo; síntese, entendida como o processo que leva à reconstituição do todo, previamente decomposto pela análise, consistindo em conduzir ordenadamente os pensamentos, principiando com os objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, em seguida, pouco a pouco, até o conhecimento dos objetos que não se disponham, de forma natural, em seqüências de complexidade crescente; enumeração, que consiste em realizar sempre enumerações tão cuidadosas e revisões tão gerais que se possa ter certeza de nada haver omitido.

Com o passar do tempo, muitas outras visões foram sendo incorporadas aos métodos existentes, fazendo com que surgissem também outros métodos, como veremos adiante. Antes, porém, cabe apresentar o conceito de mátodo moderno, independente do tipo. Para tal, será considerado que o método científico é a teoria da investigação e que esta alcança seus objetivos, de froma científica, quando cumpre ou se propõe a cumprir as seguintes etapas:

Descobrimento do problema - ou lacuna, num conjunto de acontecimentos. Se o problema não estiver enunciado com clareza, passa-se à etapa seguinte; se estiver, passa-se à subseqüente;

Colocação precisa do problema - ou ainda, a recolocação de um velho problema à luz de novos conhecimentos (empíricos ou teóricos, substantivos ou metodológicos);

Procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes ao problema - ou seja, exame do conhecido para tentar resolver o problema;

Tentativa de solução do problema com auxílio dos meios identificados - se a tentativa resultar inútil, passa-se para a etapa seguinte, em caso contrário, à subseqüente;

Invenção de novas idéias - hipóteses, teorias ou técnicas ou produção de novos dados empíricos que rpometam resolver o problema;

Obtenção de uma solução - exata ou aproximada do problema, com o auxílio do instrumental conceitual ou empírico disponível;

Investigação das conseqüências da solução obtida - em se tratando de uma teoria, é a busca de prognósticos que possam ser feitos com seu auxílio. Em se tratando de novos dados, é o exame das conseqüências que possam ter para as teorias relevantes;

Prova ou comprovação da solução - confronto da solução com atotalidade das teorias e da informaçào empírica pertinente. Se o resultado é satisfatório, a pesquisa é dada como concluída, até novo aviso. Do contrário, passa-se para a etapa seguinte;

Correção das hipóteses, teorias, procedimentos ou dados empregados na obtenção da solução incorreta - esse é, naturalmente, o começo de um novo ciclo de investigação.

Métodos específicos das Ciências Sociais

A maioria dos autores faz distinção entre "método"e "métodos", porém, se de um lado a diferença ainda não ficou clara, de outro, continua-se utilizando o termo "método" para tudo.

Como uma contribuição às tentativas de fazer distinção entre os dois termos, diríamos que o "método"se caracteriza por uma abordagem mais ampla, em um nível de abstração mais elevado, dos fenômenos da natureza e da sociedade. Assim, teríamos, em primeiro lugar, o método de abordagem assim discriminado:

Método Indutivo- cuja aproximação dos fenômenos caminha geralmente para planos cada vez mais abrangentes, indo das constatações mais particulares às leis e teorias (conexão ascendente);

Método Dedutivo - que, partindo das teorias e leis, na maioria das vezes predia a ocorrência dos fenômenos particulares (conexão descendente);

Método Hipotético-dedutivo - que se inicia por uma percepção de uma lacuna nos conhecimentos, acerca da qual formula hipóteses e, pelo processo de inferência dedutiva, testa a predição da ocorrência de fenômenos abrangidos pela hipótese.

Método dialético - que penetra o mundo dos fenômenos, através de sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.

Por sua vez, os "métodos de procedimento" seriam etapas mais concretas da investigação, com finalidade menos abstarta e mais restrita em termos de explicação geral dos fenômenos. Dir-se-ia até serem técnicas que, pelo uso mais abrangente, se erigiram em métodos. Pressupõem uma atitude concreta em relação ao fenômeno e estão limitadas a um domínio particular. São as que veremos a seguir, na área restrita das ciências sociais, em que gerlamente são utilizados vários, concomitantemente.

Método Histórico - consiste em investigar acontecimentos, processos e intituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje. Para melhor compreender o papel que atualmente desempenham na sociedade, remonta aos períodos de sua formação e de suas modificações;

Método Comparativo - é utilizado tanto para comparações de grupos no presente, no passado, ou entre os atuais e os do passado, quanto entre sociedades de iguais ou de diferentes estágios de desenvolvimento;

Método Monográfico - consiste no estudo de determinados indivíduos, profissões, instituições, condições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter generalizações;

Método Estatístico - significa a redução de fenômenos sociológicos, políticos, econ6omicos etc, em termos quantitativos. A manipulação estatística permite comprovar as relações dos fenômenos entre si, e obter generalizações sobre sua natureza, ocorrência ou significado;

Método Tipológico - apresenta certas semelhanças com o método comparativo. Ao comparar fenômenos sociais complexos, o pesquisador cria tipos ou modelos ideais (que não existam de fato na sociedade), construídos a partir da análise de aspectos essenciais do fenômeno;

Método Funcionalista - é a rigor mais um método de interpretação do que de investigação. Estuda a sociedade do ponto de vista da função de suas unidades, isto é, como um sistema organizado de atividades;

Método Estruturalista - o método parte da investigação de um fenômeno concreto, eleva-se, a seguir, ao nível abstrato, por intermédio da construção de um modelo que represente o objeto de estudo, retomando por fim ao concreto, dessa vez como uma realidade estruturada e relacionada com a experiência do sujeito social.

Bibliografia de Apoio

BUNGE, Mario. Epistemologia: curso de atualização. São Paulo: T. A. Queiroz/EDUSP, 1980, capítulo 2.

HEGENBERG, Leônidas. Explicações científicas: introdução à filosofia da ciência. São Paulo: E.P.U. EDUSP, 1973, segunda parte, capítulo 5.

LAKATOS, Eva Maria & MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. São Paulo: Editora Atlas, 1991.

Fonte (http://www.puc-rio.br/sobrepuc/depto/dad/lpd/download/tiposdeconhecimento.rtf)